Olá a todos, volto aqui para falar de outro múltiplo muito usado na seleção de ativos. Nesse post Investir com base no Preço/Lucro é eficaz? eu apresentei os resultados de uma carteira montada exclusivamente com base no Preço/Lucro. Agora eu vou falar do múltiplo P/VP e apresentar os resultados que teríamos com uma carteira montada exclusivamente com esse múltiplo.
Esse múltiplo é muito famoso também e bastante utilizado principalmente pelos investidores que adotam a filosofia de investir em valor.
Resumidamente, o P/VP é razão entre o preço da ação e o valor patrimonial da ação. O primeiro é simplesmente o preço da ação na bolsa de valores. O segundo é o valor patrimonial de uma ação calculado com base no patrimônio líquido lançado no balanço contábil da empresa e no número de ações do capital social.
Valores abaixo de 1 significam que o preço da ação no mercado é inferior ao valor contábil dela e acima de 1 o inverso. A teoria do investimento em valor prega que quanto menor o P/VP melhor. Mas será?
Os resultados abaixo foram tirados do livro What Works on Wall Street de James O'Shaughnessy. Mas primeiro, há que se entender como e
quais os critérios utilizados por ele para se calcular os benefícios do
P/VP na seleção de ações por meio de uma análise quantitativa simulada em
computador. O período estudado vai de 1927 a 2009, portanto incríveis 83 anos.
Ele com base no preço histórico de cada
ação e do seu valor patrimonial calculou o P/VP do total de ações e ordenou do menor para o maior P/VP. Daí, ele
montou várias carteiras virtuais no qual ele investia $10.000 no conjunto de
ações que integrasse cada faixa de 10% da ordenação de P/VP. O valor investido era
rateado igualmente entre todas as ações que integrasse esse cada
decil (10%).
O investimento era todo feito num
determinado mês e rebalanceado a cada 12 meses, com base numa nova
ordenação de P/VP, do menor para o maior. Para evitar a tendência de um mês do ano ser melhor
para comprar ou vender do que outros meses, ele montou, na verdade,
doze carteira para cada decil, cada uma com o investimento e rebalanceamento num
determinado mês, e daí calculou o resultado médio. Nenhum investimento
era feito ao longo do estudo, portanto existia apenas o investimento inicial que
era rebalanceado anualmente.
A primeira coluna apresenta o resultado da carteira
montada com as ações dos P/VP 10% menores. A segunda coluna é o resulado com uma carteira montada com a faixa dos 20%. A última coluna é o resultado de
uma carteira composta por todas as ações existentes, que representam o desempenho do mercado.
Primeiro decil | Segundo decil | Todas ações | |
Retorno médio ao ano | 11,33% | 12,68% | 10,46% |
Desvio padrão | 29,26% | 23,73% | 21,67% |
Meses positivos | 603 | 622 | 606 |
Meses negativos | 393 | 374 | 390 |
Índice Sharpe | 0,22 | 0,32 | 0,25 |
$ 10.000 virou | $ 74.047.642 | $200.324.516 | $38.542.780 |
A primeira observação é que o primeiro decil, o conjunto de 10% de ações com os menores P/VP não apresentou o melhor resultado, diferentemente do resultado carteira P/L que respeitou religiosamente a regra de que quanto menor melhor. O melhor resultado foi encontrado no segundo decil.
O primeiro decil, além de ter perdido no rendimento acumulado para o segundo decil, apresenta maior volatilidade medida pelo desvio padrão. O resultado disso é que o primeiro decil apresenta índice Sharpe bem abaixo do do segundo decil e até abaixo do Sharpe do mercado.
O índice Sharpe serve para comparar a
eficiência da rentabilidade de uma carteira. Como de investimentos com
maior risco se espera maior rentabilidade do que de um de menor risco, é
injusto comparar a rentabilidade obtida por investimentos com riscos
diferentes. Então, para isso, existe esse índice que permite comparar
qualquer tipo de investimento, mesmo com rentabilidades e riscos
diferentes um dos outros. Esse índice quanto maior melhor.
Em termos de índice Sharpe, o melhor decil mesmo foi o terceiro. Com rendimento de 12,28%, inferior ao do segundo, mas com volatilidade menor de 21,58%, acabou com Sharpe de 0,34.
A tabela abaixo mostra o desempenho de cada decil. Se alguém tivesse investido no décimo decil teria com seus 8,1% de rentabilidade anuais produzido $6.440.263 a partir do $10.000 contra os duzentos milhões do segundo decil.
A tabela abaixo mostra o desempenho de cada decil. Se alguém tivesse investido no décimo decil teria com seus 8,1% de rentabilidade anuais produzido $6.440.263 a partir do $10.000 contra os duzentos milhões do segundo decil.
A tabela abaixo ilustra melhor a comparação do rendimento de cada decil e do mercado.
O gráfico abaixo tirado do livro mostra o excesso de rentabilidade da carteira do primeiro decil P/VP sobre o mercado, considerando uma média móvel de 5 anos. Infelizmente o livro não trás esse mesmo gráfico para o segundo decil, que foi de melhor resultado.
O gráfico abaixo tirado do livro mostra o excesso de rentabilidade da carteira do primeiro decil P/VP sobre o mercado, considerando uma média móvel de 5 anos. Infelizmente o livro não trás esse mesmo gráfico para o segundo decil, que foi de melhor resultado.
Pelo gráfico vê-se que o baixo P/VP no geral bate o mercado, porém há longos períodos de até dez anos em que esse múltiplo perde do mercado. Por conta disso, o autor alerta para análises desse múltiplo com períodos pequenos, pois dependendo do período estudado é possível concluir que o P/VP ganha, perde do mercado ou até é indiferente.
Pelos resultados não há como negar que existe relação entre o P/VP e o rendimento, porém considero esse múltiplo um drive mais fraco que o P/L. Primeiro pelo rendimento inferior do primeiro decil, provavelmente contaminado com empresas falimentares de baixo P/VP, o que exige não apenas uma ordenação com se fez com o P/L, mas um poda dessa ponta podre. Segundo que o rendimento apresentado foi inferior ao do P/L.
Pelos resultados não há como negar que existe relação entre o P/VP e o rendimento, porém considero esse múltiplo um drive mais fraco que o P/L. Primeiro pelo rendimento inferior do primeiro decil, provavelmente contaminado com empresas falimentares de baixo P/VP, o que exige não apenas uma ordenação com se fez com o P/L, mas um poda dessa ponta podre. Segundo que o rendimento apresentado foi inferior ao do P/L.
Mas e você? ainda se sente tranquilo comprando mplu3, natu3, lame4 e cruz3, todos com P/VP maior que 20, quando a média do mercado das empresas com patrimônio líquido positivo é de 2,15?